quarta-feira, 1 de abril de 2009

Literatura

Na década de 1920 era nítida a preocupação de se discutir a identidade e os rumos da nação brasileira. Todos tinham algo a dizer - políticos, militares, empresários, trabalhadores, médicos, educadores, mas também artistas e intelectuais. Como deveria ser o Brasil moderno? Através da literatura, das artes plásticas, da música, e mesmo de manifestos, os artistas e intelectuais modernistas buscaram compreender a cultura brasileira e sintonizá-la com o contexto internacional. O marco de seu movimento foi a Semana de Arte Moderna de 1922. Mas havia também intelectuais preocupados com a reforma das instituições - a começar pela Constituição de 1891 -, que se dedicaram a apresentar propostas para a reorganização da sociedade brasileira.

A entrada do Brasil na modernidade foi parte de um processo complexo em que se entrecruzaram dinâmicas diferentes. Nas primeiras décadas do século XX acelerou-se a industrialização, a urbanização, o crescimento do proletariado e do empresariado. De outro lado, permaneceram a tradição colonialista, os latifúndios, o sistema oligárquico e o desenvolvimento desigual das regiões. De toda forma, com a expansão dos centros urbanos, modificaram-se os valores da cultura cotidiana e os próprios padrões da comunicação social.

Era inevitável que a arte expressasse as transformações trazidas pela modernidade. Mas, no Brasil, outros problemas também preocupavam artistas e intelectuais. "Nós não nos conhecemos uns aos outros dentro do nosso próprio país." A frase, do escritor carioca Lima Barreto, caracteriza bem o espírito da década de 1920. Era um tempo de indagações e descobertas. A tarefa que se impunha era a de construir a nação, e isso significava também repensar a cultura, resgatar as tradições, costumes e etnias que haviam permanecido praticamente ignorados pelas elites.

A Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo no ano de 1922, representou uma verdadeira "teatralização" da modernidade. Mas o movimento modernista não se resumiu à Semana. Na verdade começou antes de 1922 e se prolongou pela década de 1930. Tampouco se restringiu a São Paulo. Houve também uma modernidade carioca, e a proliferação de revistas e manifestos por todo o país indica que o raio de ação do movimento foi maior do que se supõe.

Assim como a Exposição Universal do Rio de Janeiro de 1922, a Semana de Arte Moderna fazia parte da agenda oficial comemorativa do Centenário da Independência. O evento teve grande impacto na época, pois formalizou e discutiu questões que já se estavam esboçando na vida cultural.

São Paulo – 15.02.1922
Folha da Noite

“A Teratologia da Noite”

“Não é só um problema de estética, mas deve ser estudado como fenômeno de patologia mental. Todas as extravagâncias do Futurismo originam-se de um verdadeiro estado de espírito mórbido.
O desejo incontido de chamar atenção e a ingenuidade de certos espíritos desprovidos de qualquer preparo, o desequilíbrio de alguns cérebros e o verdor da mocidade são os principais motivos e o que caracteriza os adeptos desta escola.

Futurismo e teratologia são expressões sinônimas. Os espíritos fracos que por incapacidade mental não alcançaram o verdadeiro sentindo da arte e não atingiram a espiritualidade dos grandes gênios atiram-se Futurismo na ilusão de serem 'incompreendidos', pois todo futurista se julga um gênio iludido pela pretensa vaidade”


Alguns autores desse período:

Mario de Andrade: No "Prefácio interessantíssimo" de seu livro de poemas Paulicéia desvairada (1922), definia o passado como "lição para meditar não para reproduzir". Seu célebre livro Macunaíma (1928) mostra um herói que nasce índio, torna-se negro e no final é branco. O que importava era destacar a nossa multiplicidade étnico-cultural, vislumbrar o conjunto da nacionalidade.

Oswald de Andrade: Propunha no "Manifesto pau-brasil" (1924) uma síntese capaz de unir o "lado doutor" da nossa cultura ao lado popular. Já no "Manifesto antropofágico” (1928), sugeria um projeto de reconstrução da cultura nacional. No quadro de Tarsila do Amaral intitulado "Abaporu" - que significa "o homem que come" - está expressa plasticamente a idéia da integração cultural. No manifesto "Nhengaçu verde-amarelo" (1929), defendia as fronteiras nacionais contra as influências culturais estrangeiras.

A poesia da geração de 1930

Alguns dos poetas da década de 1930 viveram de perto a revolução do movimento literário de 1922. Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes, por exemplo, publicaram poemas na Revista de Antropofagia (1928 a 1929), de vanguarda, de Oswald de Andrade e Antônio de Alcântara Machado. Dessa forma eles participaram mesmo como coadjuvantes, da fase heróica do Modernismo. O poema 'No Meio do Caminho', de Drummond, transformou-se no maior símbolo desse momento de ruptura com a literatura mais saudosista. Outros autores conservaram uma herança indisfarçável do Simbolismo, como Cecília Meireles; do Romantismo, como Augusto Frederico Schmidt; ou mesmo da poesia parnasiana, como Jorge de Lima.

'No meio do caminho tinha uma pedratinha uma pedra no meio do caminhotinha uma pedrano meio do caminho tinha uma pedraNunca me esquecerei desse acontecimentona vida de minhas retinas tão fatigadas.Nunca me esquecerei que no meio do caminhotinha uma pedratinha uma pedra no meio do caminhono meio do caminho tinha uma pedra. ' (Carlos Drummond de Andrade, 'No Meio do Caminho')


Década de 50

Foi um período fértil em termos de estréias que marcaram o dito cânone literário do modernismo tardio ou até pós-modernismo, ou outros epítetos classificatórios para a Literatura dos anos 50. O ambiente histórico-político da época se manifesta na Literatura marcada pelo caráter da multiplicidade, pois se, de um lado temos figuras alcandoradas como Guimarães Rosa, construindo personagens que vivenciam a epifania do sertão, temos também uma autora como Carolina Maria de Jesus, nascida do jornalismo-denúncia, marginalizada da industrialização, catadora de lixo, descoberta pela mídia parte das massas para depois para elas retornar. Ela é a ant(i)í-tese do que pugnava Virginia Wolf, em um Teto todo seu, segundo a qual a ausência de grandes mulheres na Literatura se deveu aos deveres domésticos e à estrutura das casas nas quais a mulher não possui um altar para o intelecto, como para a beleza, por exemplo, bem como pela falta de renda que a torne independente, tudo nesse contexto.


Romance da literatura mundial (década de 50)

1995: Lolita, de Vladimir Nabokov
1956: Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa

Curiosidade

Literatura gay dos anos 50

As histórias estimuladas por uma época onde a América passava por um período de grandes transformações e progresso. Ajudaram a definir a homossexualidade no país do Tio Sam.
Elas representam um tipo de arte que é uma fatia do passado gay. São aspectos integrais da cultura gay que são inseparáveis da luta pela igualdade e o direito de viver a vida do jeito que escolhemos. Os leitores gays e lésbicas sentiram-se agrupados pela primeira vez de maneira explícita. Mesmo que muitos dos personagens gays nestas histórias acabassem com um final trágico, os livros se tornaram uma revelação para muitos leitores gays e lésbicas: eles não estavam sozinhos.
Durante os anos 40 e 50, centenas de vidas foram destruídas por acusações de homossexualidade. Guardados com culpa no fundo de armários e embaixo de colchões, estes livros eram compartilhados e emprestados de amiga para amiga na comunidade. Eles também eram queimados e jogados fora por aquelas que tinham medo de serem descobertas.

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